Fernanda Montenegro completou 80 anos esta semana. Nasceu Arlette Pinheiro Esteves da Silva, no Rio de Janeiro, em 16 de outubro de 1929. Um talento unânime, Fernanda Montenegro é a grande figura do teatro e da arte no Brasil.Trabalhou em rádio, realizou 59 espetáculos no palco, 58 trabalhos na TV e fez 18 longas no cinema. Um triunfo total. Numa matéria para o jornal O Estado de São Paulo, assinada por Beth Néspoli, Fernanda falou de teatro, televisão, cinema, Brasil , envelhecer e amor. Tem uma clareza impressionante.



Alguns drops de Fernanda:


"Teatro é um prazer doloroso e viciante. Como intérprete, eu sinto necessidade de ser do tamanho do espaço teatral. Se estou em cena, tenho de preencher toda a capacidade da sala. Tenho de estar presente até do lado de fora do edifício teatral, na frente e aos lados do edifício. Quem se aproximar daquela arquitetura, tem de sentir que alguma coisa está vibrando lá dentro. Isso é uma loucura de minha cabeça, mas orienta meu trabalho."


(*O curioso desta observação é que como espectadora de teatro, sinto essa vibração do espaço teatral. O teatro é muito vivo se é verdadeiro. Agora se for caça-níquel , essa vida se perde e se dilui.)


"Claro que eu me importo ao ver que os meus olhos estão embaçando, que está sobrando pele nos olhos, pelanca no pescoço. Mas é minha vida. E tenho muito medo de perder minha vida. Não se o que as famosas puxadinhas poderão fazer de mim. Posso virar uma mulher sem idade e isso é um horror. Então, o que procuro é me pôr de pé. Tenho profunda vaidade de ter minha espinha no lugar."


"Um casal que se mantém é algo subversivo, inquietante no mundo de hoje. É um agressão ao grupo social. Acham que há uma farsa, uma venda de imagem. Incomoda muito. É muito difícil aprender o convívio com o outro. O par é sempre violento. Qualquer ligação, qualquer tipo de par é sempre atração e retração, dar e tomar, oferecer e recusar, prender e soltar, ir e vir. Esse jogo faz parte de qualquer casal, juntos há um mês ou há cem anos."


"A felicidade não existe. É uma coisa estática, o nirvana, a pontuação de uma busca, de uma realização. Quando me perguntam se sou feliz, entro num estado catatônico e não sei se digo sim ou não. É claro que tive momentos de grande felicidade, mas também tenho momentos de definitiva infelicidade. E depois, vivemos num país profundamente infeliz. Quem vive aqui nãopode se alienar e se dizer feliz. Seria um blefe."


" O Brasil é assim. Se você durar muito, talvez até tenha de devolver para a previdência o dinheiro de quando se aposentou. A pensão não aumenta na medida em que você vai envelhecendo e vai precisando de mais socorro. Quanto mais você durar, menos vai ganhar. E isso é inadmissível."


"Sou de uma geração que foi feita para o futuro: ter filhos para o futuro, arrumar um bom marido para o futuro, ser um bom cidadão para o futuro. E deu nisso que nós sabemos. Então, a vivência do futuro se esgotou em mim. É isso que passo para meus filhos: "Lute por seu dia". Ele tem de ser bom , harmonioso. E se for assim, "amanhã será outro dia", como dizia Scarlet O'Hara."


Mais bacana e lúcida impossível.


* Imagem foto Revista Época

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| Por Prensada | sábado, 17 de outubro de 2009 | 11:53.