Se pudesse dar vida a Michelangelo
o trazia de volta para completar aqueles esboços incabados,
gravados no teto do meu quarto
que eu tentei copiar no meu caderno preto.
Os desenhos ficaram na memória, quase sem cor agora,
esbranquiçados.
Há muito tempo atrás, borboletas da Terra das Fadas
esvoaçavam aqui.
Bravo, bravo ! , gargalhou o pintor - já bem alegre de vinho -
Estou enjoado de igrejas e padres;
nada de anjos bambinos, santos , madonnas e Deus Todo-Poderoso.
Já imaginou eu dependurado cinco anos no teto do seu quarto
desenhando o Juízo Final ? , gargalhou.
Mestre Buonarroti ,quero duas borboletas imensas;
uma vermelha e outra azul, para abraçar por um instante
e virar uma esteta contemplativa,
uma decoradora.
Não é nada religioso como A Conversão de São Paulo,
mas é quase ritual.
Olhar borboletas no teto, é criar o movimento do mundo.
E dá um puta tesão, vibração de vida.
Olhar borboletas é como apreciar rosas vermelhas,
mas é menos meloso.
Quem sabe nessas observações noturnas, com luz mais amena,
elas não desabem em cima de mim
como faziam há muitos meses atrás ?
Era magnífico, amigo !
Buonarroti, Michelangelo, Mestre dos Mestres,
sorriu com todos os dentes:
Bravo, bravo ! abrir o Pote das Fadas,
pintar borboletas, vermelha e azul,
pincel e vinho, mais vinho !

* Imagem via Geek in Pink



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| Por Prensada | terça-feira, 26 de outubro de 2010 | 21:02.