[ por que não tenho aquela rotina das donas de casa normais ? ]
Catatau.
abri hoje o livro na cozinha
café espartano, de um bravo guerreiro -
um xícara cinematográfica.
Foda-se o descafeinado, Catatau.
E descobri na terceira página -
que o texto fica muito melhor -
muito melhor mesmo,
em voz alta.
E por aí fui, café e voz recém desperta
espiar as nuvens,
a rua que estava devagar ainda,
os prédios encracados.
Recitando o Catatau.
Nenhum passarinho,
animal, Samuca [ o filhote belezinha ]
gato , lobo ou coruja.
Algumas formigas saíram do livro,
Toupinamboults
e percorrem o computador.
Só instrumentos de corda, piano -
e o livro.
[ Descartes,
encontrei três abelhas mortas no banheiro
abelhas são moças -
todas mortas , as moças ]
Não diz Amor ao homem ou à humanidade.
Todo mundo tem que ajoelhar e dizer que ama,
escrava filha da puta;
como naquele flyer da festa.
Há dias que eu acho que é melhor parar -
e dançar.
Aqui tudo é vaidade, amor nenhum.
Estou sempre sem-razão, longe;
plantei algumas árvores reais;
comprei um frascati que já está no gelo,
uvas e suco.
Catar um copo , prato e palavras,
enlouquecer devagar.
Catatau ( 1975 ) - Paulo Leminski, reeditado
Ed. Iluminuras
Quem conseguir ler inteiro em voz alta,
dou um beijo apaixonado !
* Imagem via love notes
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