e vamos conhecer Alberto Pucheu:
é boxeador e poeta ( muito bom ! )
autor de "A Vida é Assim " (Azougue Editorial ) e
"Ecometria do Silêncio " ( Sette Letras ), entre outros
Tanto silêncio no ringue, no ringue
e na fome, tanto burburinho zoando simultaneamente,
que não posso distingui-los. E mesmo antes dos golpes
na cabeça, e mesmo antes de qualquer golpe
revolvendo as entranhas pelo avesso
( antes dos 4.500 quilos de impacto ),
e , mesmo antes, tanto silêncio no ringue,
no ringue e na fome,tanto burburinho zoando
simultaneamente, que não posso distingui-los.
O ringue é o ringue, a fome é a fome, mas no ringue
(como na fome, como na fome do ringue, como no ringue da fome )
o silêncio é silêncio e burburinho,
e o burburinho é silêncio.
Quando, no canto do amparo, sentado, curativos imediatos,
os segundos trabalhando a meu favor, a respiração em busca
de um ponto pacífico - , ouço a voz nítida do treinador
se erguendo do alarido da multidão e de ninguém,
não a escuto como um mandamento:
infiel e pecador, poderia traí-la. Escuto essa voz desenrolar
as últimas ataduras que envolvem o punho do meu coração,
espremê-lo ao sumo,
ao ponto de o gosto do sangue ( de o gosto da fome ) brotar
espremendo as gengivas por entre os dentes e o protetor,
me dando a certeza de que o próximo soar do gongo
será o último badalo com o qual meu adversário sonhará
antes de beijar a encardida lápide da lona.
A voz do sangue, o sangue da voz
* Imagem by Megan Caros via honey bear
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