Paris da minha ternura
Onde estava a minha Obra
Minha Lua e minha cobra,
Timbre da minha aventura.

Ó meu Paris, meu menino,
Meu inefável brinquedo...
- Paris do lindo segredo,
Ausente no meu destino.

Regaço de namorada,
meu enleio apetecido
Meu vinho d'ouro bebido
Por taça logo quebrada...

Minha febre e minha calma
Ponte sobre o meu revés:
consolo da viuvez
sempre noiva da minha' alma.

Ó fita benta de cor,
compressa das minhas feridas...
Ó minhas unhas polidas
Meu cristal de toucador.

Meu eterno dia de anos,
Minha festa de veludo...
Paris: derradeiro escudo,
Silêncio dos meus enganos.

Minha cidade-figura,
minha cidade com rosto
Milagroso carrousel
Em feira de fantasia
Meu teatro de papel...

Bem-me-quer e mancenilha
Paris - meu lobo e amigo,
quisera dormir contigo
Ser todo a tua mulher !


Mario de Sá-Carneiro * Paris , 1915

* Gargouille, Paris

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| Por Prensada | segunda-feira, 4 de agosto de 2008 | 20:54.