(...) Mas havia outros dias em que saíam a passeio nas montanhas sozinhas, pegando qualquer estrada à vista. Uma vez toparam com uma cidadezinha que gostaram e passaram a noite ali, sem pijamas ou escovas de dente, sem passado nem futuro, e a noite tornou-se mais uma daquelas ilhas no tempo, suspensa em algum canto do coração ou da memória, preservada e absoluta. Ou talvez não fosse nada a não ser felicidade, pensou Therese, uma felicidade total que deve ser bastante rara, tão rara que poucas pessoas já a conheceram. Mas se fosse apenas, felicidade, então tinha extrapolado seus limites e se tornado outra coisa, uma espécie de pressão excessiva, de modo que o peso de uma xícara de café na sua mão, a velocidade de um gato a atravessar o jardim embaixo, a colisão silenciosa de duas nuvens parecia quase intolerável. E tal como ela não compreendera há um mês o fenômeno da felicidade súbita, não compreendia seu atual estado, que parecia uma sequela.Frequentemente, era mais doloroso que agradável, por isso ela temia sofrer de alguma deficiência grave e singular. (...)


*Carol, Patricia Highsmith



* Eric Fischl painting , The travel of Roma

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| Por Prensada | sexta-feira, 24 de outubro de 2008 | 23:12.