Bom, o toca-disco voltou. Você já encontra nas lojas de cds, o antigo formato. Fui olhar e fiquei muito feliz. É um encanto, porque valoriza o artista - que hoje fica quase anônimo no IPod.
Mas como agora surge um grupelho , um som, uma novidade a cada segundo - relaxe.
Vá atrás dos vinis, e faça tudo bem devagar. Aprecie, ame e seja fiel. Compre um toca-disco antigo , boas agulhas e dê a partida.
Vi uma bolsa dessas moderninhas com uma ilustração daquele tempo do toca-disco. A fita-cassete Basf. Eu gravava com Basf num longíquo verão de praia. Um puta calor , discos , ventilador e aqueles tapes esparramados. Cumpriram uma jornada, mas eram temperamentais. As vezes, enrolavam , partiam e a festa acabava.
A Brasília bege ( ! ) era o meu xodó. E lá o decreto era sair sem rumo, com as janelas encancaradas, vento na cara pra deixar o cabelo secar e o som da Basf. O carango subiu a serrinha de Boiçucanga sem asfalto e sob chuva torrencial.
O povo amigo empurrava quando o burro estancava.
E então , a praia era só prá nós com um sol lisérgico
e música bacana.
Depois descobri a pólvora e as bombas de gás lacrimogênio. A cavalaria cresceu na nossa frente e entramos correndo na Catedral da Sé. Abaixo a cavalaria ! Abaixo a Ditadura !
Viva a maconha manga-rosa e o som de Neil Young. Descobri o vermelho e o negro , bandeiras e a literatura entrou na veia num baque só. Braço esquerdo na tipóia, coisas de política e repressão. Uma panela de pressão. Basf, Basf, Basf. Aquele sonho jovem de ir prá rua , tocar guitarra e cantar. Fiz poemas na areia com palito de sorvete Kibon. E juro: ia ao dancing na cidade vizinha, fumar um e tomar uísque barato. Basf, Basf , Basf. E descobrir , finalmente, o ritmo do jazz numa noite febril de lua cheia.
* Foto passeata dos 100 mil , Evandro Teixeira
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