É fevereiro e eu nunca soube de você. Na verdade, eu a confundi com as ondas que chegavam até meus pés na praia. Olhava encantada seus olhos e minha cabeça rodava sem noção. Tão distraída eu ficava, que aquele mar molhava meus pés, de tenis e sem meia. Olhava para o céu acompanhando o fluxo das nuvens sopradas pelo vento - um homem pescava na murada da Ponta da Praia e nunca imaginaria estar tão ligada a alguém. Cheguei muito perto da arrebentação e implorei ao deus das marés que um barco enorme entrasse na Barra. Queria vê-la acenando para mim da murada do navio. Mas nada disso aconteceu. Só alguns mergulhos e gosto de sal.
Tomava sol sem piedade até torrar a alma por duas gerações e alucinava na medida que o pensamento desabava em ti. Eu, a doida do litoral.
Resolvi , pela solenidade do meu sentimento, não nomeá-la. Deixei esse segredo rolar por dentro das minhas veias por anos e seu nome tornou-se ciclame ou gerbera.
Flores que você leva prá casa com carinho e elas ficam lindas quando você passa os olhos nelas. O ciclame é encantador e é uma flor bonita de se admirar. Tô começando a estudar o ciclame. É a minha primeira flor, além das rosas e das gerberas. Quando aprender a conviver com a flor ciclame e ela conviver bem comigo, nos amaremos para sempre. Até despencarmos do galho e virarmos pó.


Nunca dizia o seu nome, era um segredo. Só o mar sabia.
Mas batizei muitas das coisas que eu gosto com teu nome: telas, músicas, livros, cartões bonitos, xícaras, caderno de anotações entre outras pirações. Pode ser um bilhete, um cartão encontrado no fundo da gaveta, uma dedicatória. Putz, tem tanta coisa por aqui.
Tem barulho do mar, reverberação da concha em que eu produzi você:
aquela musa grega, que me prende no seu labirinto.




* Cyclamen persicus, é o nome científico da flor.


Às vezes, vejo ciclame numa loja pequena, aqui do pedaço. Vou ver naquelas barracas da Dr. Arnaldo, passar os olhos devagar naquelas cores. Ciclame e depois, dálias.
Um ciclame lindo que eu tinha aqui , viveu três semanas - lindíssimo - depois despencou e morreu.
Que merda. Queria que ele vivesse muito mais tempo.

Vou atrás de outro.



* Salvador Dalí , Desnudo en un paisage , 1922-1923

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| Por Prensada | terça-feira, 24 de fevereiro de 2009 | 11:53.