Então Hollywood voltou seus olhos sedentos de dólares para a Índia e tascou 8 Oscars para o filme de Danny Boyle. O diretor inglês, que já realizou filmes super barra-pesada e legais entrou para o hall da fama. Quem não se lembra de Trainspotting, Caiu do Céu ( Millions ) , A Life Less Ordinary ( Por uma vida menos ordinária ) ou o antigo Shallow Grave ( Cova Rasa ) de 1994 ?
Danny Boyle sempre seguiu um padrão quase subversivo, bem diferente do star system hollywoodiano.
Mas agora com o oscarizado Slumdog Millionaire seu destino é incerto.

Em Trainspotting tem uma cena emblemática com cocô. Ewan McGregor enfia a cabeça dentro de uma privada imunda. Está pirado de heroína. Em Slumdog Millionaire, um dos meninos favelados ( Jamal ) mergulha numa fossa entupida de merda. Está pirado querendo um autógrafo de um ator super famoso de Bollywood que visita o favelão.
Estamos num favelão de um milhão de habitantes em Mumbai. Um milhão de seres humanos no meio de escombros, lixo e casinhas paupérrimas.
Prá quem se irrita com essa exposição de miséria no cinema, desculpe. Mas não posso fazer nada. Mais da metade da humanidade vive nesses lugares infectos e abandonados a própria sorte por culpa da super-população, corrupção, cultura, castas e por assim dizer, destino.
Assim esta escrito ? Hum...sei não.

Quem nasce miserável na Índia permanece lá, na fossa. Menos Jamal empenhado
em viver o seu amor por Latika. Corre atrás desse sonho de amor de forma obsessiva e acaba num programa de auditório de perguntas e respostas. Se acertar as questões ficará milionário.
Na verdade, ele não quer ficar milionário, ele quer o amor de Latika. E isso é que é bacana no filme. Ele não trai a sua vontade e não se desvia um milímetro de seu propósito. Jamal é persistente e não quer grana. Quer Latika.
Jamal também tira de letra aquela velha cantilena que é preciso ter faculdade e diplomas para saber das coisas da vida. Ledo engano. Ele vai respondendo as perguntas do apresentador-charlatão com a sua vida de moleque favelado. Ironia do diretor Boyle, nesse roteiro de conto-de -fadas. Muito engraçada a referência a Alexandre Dumas e os 3 Mosqueteiros: Samir, Jamal e Latika.
O fundamental na história é a trajetória dos dois irmãos, duas personalidades diferentes unidos pela miséria. Salim vive aterrorizando o pobre Jamal desde pequeno. É o seu carrasco e salvador. Há cenas emblemáticas que enfatizam o amor e o ódio dos irmãos. Quando ele o salva de um explorador de crianças e quando deixa Latika fugir com seu celular. Samir ama Jamal.
Jamal ama Samir.

O filme corre em três tempos, o programa de televisão, Jamal sendo "torturado" na delegacia sob alegação de fraude. Como um favelado sabe todas as respostas ? E o terceiro tempo, quando Jamal relembra os fatos de sua infância e adolescência. E daí , o diretor Danny Boyle alucina com imagens em tons vibrantes, travellings monumentais e uma camera que não para. Só há uma pausa na piração quando a sequência volta para o programa de televisão. O filme tem uma fotografia belíssima. E claro, é uma grande história de amor, bem ao gosto dos indianos, que possuem uma fábrica de filmes , Bollywood, de onde saem produtos parecidos com essa história encantadora de amor entre Jamal e Latika.
Pode-se compará-lo ao filme Cidade de Deus , mas Slumdog Millionaire é bem diferente. Cidade de Deus era só violento e uma fotografia ampliada do bem-estar social do Brasil. Risos.
Apesar de brutal e violento , Slumdug Millionaire , o filme de Danny Boyle comemora a vida, o amor e falta de interesse pelo dinheiro. Curioso, não ?
É uma ficção, uma novela indiana.
A última cena, na estação reforça e enfatiza isso.
Afinal, o milionário Jamal só quer mesmo a garota de seus sonhos.
Depois de tanta dor e tortura, podemos respirar aliviados.
E até dançar na plataforma de trens.

Sou da turma que adorou o filme. Adoro filmes de amor.

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| Por Prensada | segunda-feira, 9 de março de 2009 | 18:21.