Era alguma coisa solene, quase ritual. Eu era conduzida por um homem e uma mulher que eu mal vi. Era um sonho da noite anterior, aquele calor que subia do lençól e você querendo tomar banho de cachoeira lá na serrinha de Boiçucanga , mas estava em São Paulo. Sufoco mesmo.
Eu tinha que engolir uma gilette de barba, uma chave daquelas antigas e algum outro treco que não me lembro mais. Sinistro.
Envolvia meu pai e eu estava tirando as algemas, me libertando.
Prá isso tive que me estiletar por dentro -
e sangrei, sangrei por meses
vísceras ensanguentadas até o dia que me cortaram naquele frio
azulejo e máscaras verdes.
Gestação , fluído aminoácido , placenta tudo foi para o lixo.
Não é muito bom perder a sensação de gestar.

Daí , depois do susto acordei e percebi meu coração
aquelas boas artérias cardíacas , terapias e tals -
e outras cositas mais.

Olhei pela janela do hospital, lá no pátio
uma linda espatódia, com aquela cor berrante de laranja.
Deu até vontade de parar na sombra e parei.
Respirei um pouco, tirei o suor do rosto, descansei
e segui.

Não tenho mais medo de cara feia.



* Canaima Falls, Venezuela via pixdaus

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| Por Prensada | quinta-feira, 5 de março de 2009 | 21:45.