O corpo enfraquecido, a cama e a gripe .
Mas alguns prazeres nesse nocaute febril - e mergulhei no estonteante 103 Contos de Fadas - Angela Carter - ( Cia. das Letras ).
Ler é misturar os mundos. Você é um peregrino quando abre um livro.
Um navegador português que chega ao Cabo da Boa Esperança.
Onde era mesmo o Cabo das Tormentas ?
Achava lindo quando era criança ouvir essa história na escola.
Os caras eram valentes e ambiciosos.
Um Sonho
Fiquei pequena de repente e caminhei por cima do livro devagarinho,
porque sabia que era um sonho e que se eu andasse correndo provavelmente acordaria.Era um livro de letrinhas e desenhos tipo aquarelas. Lindas mulheres ninfas. Uma em especial , com tintas vermelhas e douradas abandonava-se ao olhar do desenhista, quase desfalecida de prazer.
Eu sentia que ela queria dar tudo ao Universo.
Se a Terra for quadrada, como diziam os navegadores,
você despenca no abismo:
Nirvana ou Inferno.
Não temos nada a perder, não é mesmo ?
Outro sonho:
O peregrino , cavaleiro que vai à galope num cavalo branco cinzento. Pela estrada só out-doors de letras. Outdoors de letras de todos os tamanhos. Foi a coisa mais bonita que já vi na vida. Uma coisa de Sapucaí ou Champs-Elysees, sei lá.
Letras penduradas pela estrada. Brilhavam , piscavam e reluziam.
E não aquelas publicidades de meias, cuecas , condomínios fechados e motéis.
Parei para beber. Vodca com pimenta. Tomei outra coisa, tipo tequila também.
E na hora da tequila, abri os olhos em Tijuana com aquela luz chapada , amarela, do filme Traffic, do Steve Soderbergh.Eu não estava naquela sequência azulada, estava na amarela. Ouvi o primeiro tiro e acordei.
Chuvinha em Sampavelox e os pulmões doendo.
Ainda bem que não morri no tiroteio.
* Jan Durina, In Red , via Fluffylychees
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