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Me deixe respirar, por longo, longo tempo, o cheiro de seus cabelos, neles mergulhar todo o meu rosto, como um homem sedento na água de uma fonte, e agitá-la com minha mão como um lenço cheiroso, para sacudir lembranças no ar.
Se você pudesse saber tudo o que vejo ! Tudo o que sinto ! tudo o que ouço em seus cabelos ! Minha alma viaja por sobre o perfume como a alma dos outros homens por sobre a música.
Seus cabelos contêm todo um sonho, repleto de velas e mastros; contêm grandes mares, cujas monções me levam a encantadoras regiões, onde o espaço é mais azul e mais profundo, onde a atmosfera é perfumada pelas frutas, pelas folhas e pela pele humana.
No oceano de sua cabeleira, entrevejo um porto fervilhando de cantos melancólicos, homens vigorosos de todas as nações e navios de todas as formas, recortando suas arquiteturas finas e complicadas num céu imenso, onde se estira o eterno calor.
Nas carícias de sua cabeleira, reecontro os langores de longas horas passadas num sofá, no quarto de um belo navio, embaladas pela arfagem imperceptível do porto, entre os vasos de flores e as moringas refrescantes.
Na ardente lareira de sua cabeleira, respiro o cheiro do fumo mesclado de ópio e açúcar; na noite de sua cabeleira, vejo refulgir o infinito do azul tropical; nas margens de penugem da sua cabeleira, me embriago com os cheiros combinados do alcatrão, do almiscar e do óleo de coco.
Me deixe morder, por longo tempo, suas tranças pesadas e negras. Quando mordisco seus cabelos elásticos e rebeldes, me parece estar comendo lembranças.




* Imagem via Finegarten

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| Por Prensada | quarta-feira, 23 de setembro de 2009 | 23:17.