@ clique e mergulhe



Ela acordou disposta a atravessar aquele mar escuro e encapelado.
Sabia que lá fora estava muito frio e ventava.
Não tinha se preparado para uma jornada tão dura e dolorida.
Mentira: tinha treinado muito, só a cabeça que não andava boa.
Quem está preparado para tanto ?
Abrir os pulmões e dar aquele berro:
- Estou aqui, nasci e vou em frente.
O mar nunca esteve tão assustador na maré cheia.

Mas a travessia era necessária. Uma urgência, um chamado , um clamor.
Não podia agora ter medo de enfrentar o vento, a praia e o mar.
Quando mergulhou , suas lágrimas misturaram-se a água salobra e a friagem.
Olhou velho farol ao largo da costa, que seria sua bússola. Mas , a luz intermitente
não dava nenhuma segurança.
Pensou em nadar até o fim do mundo. Será que seus braços aguentariam tanto esforço ?
E chorou mais ainda, desesperada. Uma inutilidade.
A solidão do oceano a amedrontou.
Posso morrer agora , aqui.
Entregar-me os predadores.

A nadadora do fim do mundo percebeu que seus braços já acompanhavam
o ritmo do turbilhão do mar, e ela lembrou da sua infãncia -
quando tudo era mais apaixonante e bonito no seu mundo de menina.
Não sentia medo, só brincava na praia. Não gostava de adultos, de sua
mãe e afligia-se com seu pai.
Não tinha irmãos , então vivia sempre só.
Andava pela praia em silêncio quando notava que o dia estava terminando.
Não tinha aflições, angústia e nojo.
O nojo veio depois, a morte também.


* a nadadora


* Imagem via Ideias Portuguesas

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| Por Prensada | quinta-feira, 10 de dezembro de 2009 | 14:12.