Janeiro. Yemanjá reina este ano.
Então vamos ficar encharcados, debaixo d'água, líquidos.
Tô muito maluca now.
Ainda não é o fim do mundo, nem o princípio de nada , apenas é um pouco tarde - e todo mundo dorme , menos eu e mais alguns gatos pingados que caminham pela rua trançando as pernas.
No meu caso, venho falando sozinha, agarrada ao guarda-chuva, pulando a poça d'água imensa da esquina. Mil latinhas e lixo. Um cachorro magro e um garoto na soleira da porta.Um abandono só.
blade runner, isto é muito blade runner.
A cabeça embaralhada de palavras , um dicionário com bafo de cerveja e
outras drogas.
Noitão de arrepiar a espinha, chuva torrencial e permanente.
Será que não vamos mais conseguir ver a Lua cheia ?
O que vou escrever quando ligar o computador e
meu olhos baterem naquele branco iluminado de doer a vista ?
Onde larguei meus óculos ?
Ela é selvagem mas dócil, como escreveu Bukowski,
o amor é um cão dos diabos.
Encontrei o papel amassado no fundo da bolsa, guardanapo.
Lá estava, borrado de tinta azulada meu decreto prá madrugada.
Certeza desta hora
Uma haverá, só haverá uma.Basta uma só.
Ela é única neste momento silencioso.
Ela é igual a Lua, aquela que reina só.
Não quero nada mais.
Também não importa como e quando.
* Escrito a 1h52 da manhã,
sêxta-feira de um janeiro muito louco *
* Imagem via From the Blue
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