Tudo pode terminar assim: num estalo, no acidente estúpido, num piscar de olhos.
Mas antes do Dilúvio Final, do terremoto fodido ou do acidente banal -
vamos viver com toda a força.
Vemos dois personagens ensaiar um texto, fazer teatrinho ,
amar , brigar, dançar , amar , trepar, etc.
Muito, muito foda a dramaturgia de Daniel MacIvor.
In On It é imperdível.

A direção é de Enrique Diaz, que já ocupa o rol dos grandes encenadores brasileiros,
junto com Newton Moreno e Felipe Hirsch, por exemplo.
Enrique Diaz encena um texto complexo, cheio de camadas e diálogos fluidos.
Confesso que as primeiras frases , quando o personagem entra no carro e procura uma estação de rádio à esmo é genial e me fisgou por completo. Rendida.
O humor é corrosivo e de repente, voilá , caímos num lirismo poético inigualável ,
muito simples e tocante.
In On It é uma peça gay ?
Tsc, claro que não - só fala de relações humanas e rompimentos.

A dramaturgia de MacIvor divide o espetáculo em três camadas: no presente, dois homens discutem o enredo e os caminhos de uma encenação de um texto escrito por um deles. A discussão se amplia e abrange a antiga relação amorosa de ambos.
Em outra fatia ( a peça ) se dá a representação do texto , cenas breves exibem o drama de um personagem que tem os dias contados, pouco tempo de vida.
Na última camada ( o passado ), há etapas da relação dos dois homens são revividas com música.

O exercício proposto por MacIvor é a metalinguagem e no centro da discussão está o confronto entre a finitude - da vida , do amor , dos laços. E o final é dilacerante e meu coração subiu prá boca.
Dois atores fodões , maravilhosos: Emílio de Mello e Fernando Eiras.

A cena do balé ao som de Lesley Gore - Sunshine, lollipops and raiwbows é uma delícia.
Uma luz climática pontua todo o texto e praticamente é o cenário: holofotes , duas cadeiras e um casaco. A luz é feita por Maneco Quinderé, um craque.

E viva o Teatro.


* Imagem divulgação - poster do espetáculo

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