Revi há pouco meu caderninho de idéias e fiquei estarrecida.
Estou com uma letra horrível. Garranchos para a direita e para esquerda.
Gostava de ainda saber desenhar as palavras como quando era criança.
C a l i g r a f i a.
Antigamente, eu tinha um caderno onde eu ficava desenhando as palavras.
Usava lápis e uma borracha quando a letrinha saia do esquadro, da linha.
E fazia um borrão grotesco.
Ficava um tempo enorme escrevendo-desenhando para a linha não sair do trilho.
Era como se guiasse uma Maria Fumaça.
As crianças aprendiam a escrever caligraficamente.
Hoje, não sei como funciona.
Vi meus cadernos, muita coisa escrita de forma tão torta,
com garranchos horrorosos que fiquei nostalgica,
com saudade do caderno de caligrafia.
Ninguém mais usa caneta ou lápis, só em último caso.
Estou assim, estou escrevendo f e i o.
Eu tinha uma letra bacana, todo mundo perguntava se eu era professora.
Hoje escrevo f e i o, numa letra nervosa , mas até me perdoo.
Porque se escrever devagar,
eu perco o fio da idéia e fico vendo nuvens.
A moça que tinha uma senhora letra , virou
professora de Nadas:
diversão e arte, futilidades e amenidades,
música e almanaque, nuvens e sonhos, astrologia
e sortilégios.
Mas continuo a desenhar no cérebro,
no céu , nos muros, paredes, postes e viadutos;
na página mental pautada -
minhas palavrinhas toscas.
Até que elas evaporem.
Pendurei neste instante uma:
Procura-se.
Tomara que ela não se perca entre tantos garranchos.
* Imagem via Robot Heart
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