amador de amor = dor+clique



Outro poeta português , Herberto Helder.
Fodástico de bom.





O amador transforma-se de instante para instante.
Porque o amador é tudo, e a coisa amada
é uma cortina
onde o vento do amador bate no alto da janela aberta.
O amador entra por todas as janelas abertas
Ele bate, bate, bate
O amador é um martelo que esmaga.
Que transforma a coisa amada.
Ele entra pelos ouvidos, e depois a mulher escuta
fica com aquele grito para sempre na cabeça
e arder como o primeiro dia de verão.
Ela ouve e vai-se transformando, enquanto dorme,
naquele grito do amador.
Depois acorda , e vai, e dá-se ao amador
dá-lhe o grito dele.
E o amador e a coisa amada são um único grito
anterior ao amor.
E gritam e batem. Ele bate-lhe com o seu espírito
de amador. E ela é batida, e bate-lhe
com o seu espírito de amada.
Então o mundo transforma-se neste ruído áspero do amor.
Enquanto em cima
em silêncio do amador e da amada alimentam
o imprevisto silêncio do mundo.



* Imagem Foto by Pedro M. via Flickr *

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| Por Prensada | domingo, 1 de agosto de 2010 | 17:08.