Peguei a estrada que estava cinzenta e sem nenhum resquício de sol. Quando vou para a praia sempre chove. Não acerto meu calendário com o sol que aparece lá. Então cheguei e fiz o que tinha que fazer e tudo continuou cinza , com um vento que vinha do mar que me lembrou de coisas tristes e sem vida.Peguei minhas anotações e fiz o que tinha que fazer lá. Tudo de forma mecânica como um computador. O computador também é cinza. E começou a chover miúdo lá, e não tive vontade de falar e ver ninguém. Lembrei do filme do Antonioni , aquela sequência longa de silêncios , quebrados por um diálogo que eu não conseguia entender. Preto e branco, e cinza também.
O conforto veio quando entrei no ônibus de retorno e comecei a subir a serra do mar com alguns lampejos de claridade . Eu estava cansada de tanto silêncio, cinza e vento.
Alguma coisa com sol tem que acontecer, pensei. E eu chorei dentro do ônibus.
Fazia tempo que não chorava. Senti vontade de morrer porque não estava sentindo nada além do cinza. Fechei os meus olhos para não olhar a estrada, que não estava bonita. A solidão sem desespero é um alívio.
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