Se você quiser viver no meio do barulho e da fumaça não tem lugar melhor:

Experimente o fim da rua da Consolação,

ali perto da Praça Roosevelt.

Santa Consolação !

aquela mãe que reza pelos desvalidos e aflitos.

Tem a igreja e tem o sino que toca Ave Maria bem alto.

O lugar é um dos favorito dos perdidos do Centro.

Cruzei o elevado da Amaral Gurgel

Olhando pro chão prá não cair naquela calçada esburacada;

Ainda estava cedo, e eis que surge do nada,

A criatura mais maltratada do planeta.

Lá vinha ele cambaleando, como um bailarino trôpego,

Falando alto e cantando.

E naquele momento , aquele homem foi eleito por mim

O símbolo da miséria humana.

Se houvesse uma eleição prá escolher o cara mais fodido

E encalacrado , seria ele.

Ganharia o troféu disparado.

O homem é tão judiado que parece um bicho saído das cavernas.

Daí botei o apelido nele:

O abominável homem sem-teto.

Aquele cabelo inacreditávelmente Jamaica,

com dreadlocks , que ele chacoalha feito maluco.

Já notei diversas vezes a expressão de espanto dos

Transeuntes que topam com ele pelo caminho.

A grande maioria se desvia dessa figura tão abandonada.

Com a roupa em frangalhos, fedido e

falando sozinho ou cantando.

Sim , ele canta a mesma coisa sempre.


“São, São Paulo meu amor

São, São Paulo quanta dor ...”



Uma senhora um dia me contou que ele trabalhava

Como cantor da noite e tinha um vozeirão.

Era casado e tinha uma filhinha linda.

Quando o casal se separou , ele mergulhou no

Álcool , abandono e daí partiu pro crack e a demência.

Há anos ele perambula pela Amaral Gurgel

E Consolação.

O Tom Zé da sarjeta imunda.


Onde será que anda a mulher e sua filha ?

O abominável homem sem-teto tinha uma família.

Ele pediu um cigarro prá mim.

Se eu fumasse, daria um cigarro prá ele;

Só prá ele continuar cantando:


"Crescem flores no concreto

Céu aberto ninguém vê

Porém com todo defeito

Te carrego no meu peito

São, São Paulo

Meu amor

São, São Paulo ..."



* Tom Zé - São São Paulo


* Zuateg arte

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| Por Prensada | quarta-feira, 3 de dezembro de 2008 | 13:23.