O que falar do último trabalho desse cineasta de 73 anos ? Woody Allen é um dos mais fecundos realizadores. Imagine só: faz um filme por ano há décadas ! E mesmo em crise com sua cidade favorita, N.York , e com star-system de Hollywood , agora filma na Europa.Não precisa ser uma obra-prima, como Match Point, da atual safra européia. Qualquer filme de Allen é acima da média.
Sou fã e pronto.
Agora com Vicky Cristina Barcelona , Allen desembarca na Espanha e namora com a cidade de Barcelona de uma forma romântica.
Sua câmera, porém, destaca muito pouco da cidade, vemos alguns pontos turísticos de relance . Ele foi comedido no deslumbramento , mas o espectador sente que está junto com os personagens na cidade de Gaudí e entra no clima da fantasia.
Era esse o objetivo do diretor, que declarou que fez as personagens americanas - Vicky ( Rebecca Hall ) e Cristina (Scarlett Johansson ) terem exatamente aquele esteriótipo dos turistas americanos em férias . As jovens procuram o exótico e as cores locais.
Exotismo é que não falta em Vicky Cristina Barcelona. A cidade explode em cores, e as personagens idem. Vicky é uma acadêmica cujo mestrado aborda a cultura catalã e está noiva e logo se casará com um executivo nova-iorquino Doug. Doug , por sua vez, é aquele protótipo do americano certinho que está mais preocupado com a conexão rápida de internet que com arte e cultura.
Cristina é uma culturete, sem profissão definida , que participou de um filme de 12 minutos ( ! ) adora escrever e fotografar. Cristina ainda não sabe o quer da vida. Só sabe o que não quer...rs. Hospedadas na casa de uma parente de Vicky , conhecem numa vernissage , o pintor Juan Antonio ( Javier Bardem ). Elas são apresentadas ao pintor , que separou-se da mulher Maria Elena ( Penelope Cruz ) , após um briga onde foi esfaqueado.
As duas são convidadas para um fim de semana em Oviedo com ele, regado a vinho e amor.
Vicky , que seria a razão e o alter-ego do diretor , trata-o com hostilidade e Cristina aceita de pronto o convite. Vicky sem dúvida , tem o melhor papel do filme e a atriz Rebecca Hall tem um desempenho bárbaro. Cristina, é a atual musa do diretor, Scarlett Johansson , participou de três filme com o diretor. Particularmente, acho-a bem fraca. Só gostei dela em Lost in Translation ( Encontros e Desencontros ) e em Match Point.
Em Oviedo, Allen , brinca com o espectador e provoca vômitos em Cristina ( ! ) e força o encontro de Juan e Vicky. Depois de uma noite romântica, regada a vinho e um concerto de violão, Vicky está entregue. Quando retornam a Barcelona, Juan procura Cristina e inicia um romance intenso com a garota, ignorando Vicky. E , prá completar o triângulo, chega a ex-mulher de Juan, Maria Elena. Penelope Cruz faz uma Maria Elena enlouquecida e suicida.
E temos um quadrado completo. Um quadrado explosivo, temperamental e delicioso.
Paro aqui de narrar o roteiro e entro na minha interpretação.
O diretor aponta para a grande questão : a vida sem paixão é um tédio ?
A paixão de Juan e Maria Elena é destrutiva , tem tabefes , facas e tiros. O que você escolhe ?
Um romance morno, certinho e bacana ou o abismo do amor fou ? Ele propõe essa pergunta.
E não responde a questão...rs*

O casal de artistas é tão intenso , que precisa de um terceiro elemento para equilibrar aquele romance. Cristina é ideal , porque tem interesse em arte e quando está junto deles começa a criar também. Ela é um conforto para os dois.
Cristina tem um up-grade , começa a escrever e fotografar. Tem aquela expansão dos sentidos.
E parece feliz naquele triângulo , que inclui cama com Maria Elena. Mas Allen , bem pudico, só mostra um beijo muito delicado no laboratório fotográfico. Mas, com o tempo , Cristina ( aquela que não sabe o que quer da vida ) abandona o triângulo. E o casal pira novamente.
Juan então tenta trazer Vicky para um novo triângulo, e há o desfecho do filme.

A vida de Vicky não será mais a mesma , apesar do casamento ideal. Toda certinha, a razão em pessoa, enquadrada e planejada para vida , a jovem carregará a eterna dúvida.
Cristina é a alma que nunca estará feliz com nada. Terá muitas experiências, por certo, mas provavelmente, não gostará de nenhuma. Estará sempre abandonando o navio...
Juan e Maria Elena são competidores na arte e no amor. Ela não o ama, ama o amor e arte.
Ele confessa que absorveu sua arte e se inspira na sua loucura. São co-dependentes.
Perfeito !

* A música de abertura e dos créditos finais é do grupo espanhol Giulia y Los Tellarini.










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| Por Prensada | quarta-feira, 26 de novembro de 2008 | 13:51.