Capitão, de cigarrilhas e suspensórios,
vê a vida da escotilha
caminha no tombadilho escuro, meio bêbado,
com os olhos postos nas últimas luzes do cais.
O navio vai tocar um ponto do embarcadouro
e jogar a âncora.
Ah , meu Capitão
acende uma cigarrilha contra o vento,
e não amaldiçoa o seu destino
escolheu a estrada do oceano,
vida e cemitério de espumas.
Missão cumprida.
Vida marinha em profusão
polvos, mariscos , ostras ,
carangueijos e pinguins.
Peixes gigantes e baleias.
Rum do Caribe e uisque da Escócia.
Meu Capitão tinha marcas pelo corpo,
tatuagens , mas não era pirata.
Dizia que não era um saqueador.
Era o Anjo do Inferno, dizia com
um gargalhada exuberante
exibindo um atlas do mundo
na barriga.
Portos solitários e a constante partida:
alma de marujo.
Os marinheiros eram briguentos e
era bem comum desavenças com facas
e outras vilanias.
A navegação era para o Índico, Magalhães,
Caribe , Amazonas,
Rio da Prata e retornava a Europa.
No oceano alto, o inimigo era o mar revolto,
ventos indomáveis surgem sem aviso.
O Capitão não pregava o olho de seu palácio
flutuante: quilhas, mastros, velhas , rodas de leme,
chaminés de vapores, hélice e gávea.
Seu tesouro , sua vida, seu único amor.
O delírio das coisas marítimas, a excitação de navegar.
Não está no seu convés e
vai atrás do barulho humano,
beber com alguns companheiros e
sentir o calor de uma mulher.
Salve, Capitão !
bem- vindo a minha terra.
*" Salve gente tatuada,
gente de cachimbo,
gente escura de tanto sol,
crestada de tanta chuva
Audaz de rosto de tantos ventos
que lhes bateram a valer."
Fernando Pessoa, Ode Marítima
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