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Gostava de te olhar a dormir
mesmo que isso nunca aconteça.
Gostava de te olhar, a dormir.
Gostava de dormir contigo,
entrar no teu sono, sentir o seu fluxo suave
e nebuloso
a deslizar sobre a minha cabeça
e caminhar contigo nessa floresta luminosa
ondulante de folhas fluorescentes
com um sol aquoso e três luas
até à caverna onde terás que descer
em direção ao teu pior medo

Gostava de te oferecer um ramo de prata,
a pequenina flor branca,
aquela palavra que te protegerá
da dor a meio do teu sonho, do desgosto central.
Gostava de te acompanhar até o cimo da longa escadaria
mais uma vez e de ser o barco para te transportar de volta
com todo cuidado, uma chama entre duas mãos em concha
onde o teu corpo se deita
ao lado do meu, e tal como nele entras
com a facilidade com que se respira
Gostava de ser o ar
que te habita durante um breve instante.
Gostava de te ser tão imperceptível
e tão necessária.


* Margaret Atwood
tradução do poema de um livro português,
daí o ritmo é lusitano,
quase um fado delicado.



*Imagem ( muito romântica ) via TwentyThree

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| Por Prensada | quinta-feira, 17 de dezembro de 2009 | 17:56.