Mas, porra, estou aqui na tentativa de não ser doente da alma.
Dizem que os poetas são todos doentes. Dizem mas não provam.
Como não sou poeta, nem sei o que é isso, fico na impressão tosca.
Poesia não é sensação e emoção -
poesia é rigoroso estudo das palavras,
e suas combinações. Poesia não tem fim.
Sinfonias que acabam de repente.
Tenta dar uma de Rainer Rilke escrevendo a sua Lu Salomé.
Uma delicadeza de descrições e encantos sobre Cézanne.
Três páginas para falar de uma pintura. E não há lá nada desnecessário.
Rainer Rilke é Deus.
Jogo o livro longe. Foda-se Cézanne. Foda-se a poesia.
Quem quer encanto nesse poço sem fundo ,
nesse pântano mal cheiroso ?

Tentativa de todo, não -
não é difícil escrever poesia
é impossível. Como já dizia o outro,
lá na Bulgária ou na Rússia.
Tenta , tenta ser Octavio Paz ou Manuel de Barros, mano.
Botar asas num caracol,
tentar seguir o vôo do beija-flor.
Não temos beija-flor aqui nesse sítio em ruínas.
Tenta partir o pão italiano com o nóia da Maria Antonia.

Podia estar no topo da Capela Sistina - ah , Roma !
Tormento pagão e berrar para o povo cristão
Salve o poeta Juvenal, As Sátiras.
Um invento: dar a Cesar o que é bom, gostoso e gozamos no final.
Confundir a Trindade toda,
e confabular com a Serpente.
A poesia de alcova, trilha do prostíbulo, Pompéia.
Afrescos tão lindos de Prazer para marinheiros cansados.

Como fazer um verso carregando uma Cruz ?

Eu podia estar diante de Picasso da Guernica
tão moderno, tão atual , tão brutal
como os escombros da Cracolândia.
Mas estou aqui, tentando quebrar o gelo -
Beber até cair ? - sinto meus pulmões doendo.
Vou de encontro aos afrescos do Apoditerium e esqueço
de Rainer Rilke.

Estancar a febre, escrever prá alguém copiar. Caraleo.


* Ilustração, afresco de Pompéia via Napmus

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| Por Prensada | quinta-feira, 19 de agosto de 2010 | 21:33.