"Meu Deus, meu sonhador, segue a sonhar-me". Jorge Luis Borges
Agôsto, sampavelox , de madrugada:
Os deuses que me espreitam trouxeram em sequência
sonhos e pesadelos durante a noite.
Eu me encolhi com frio e depois de horas,
despertei como se alguém me atirasse com violência
uma coberta pesada, de pelos de alguma caça.
Era uma sonho.
Uma febre de delírios, confesso.
Lá estava ela, a Senhora das Feras.
Não sei bem como descrevê-la agora no despertar do dia,
porém a noite , em sonho, dava a impressão de ter saído de um livro de Mitologia.
Está sempre oculta atrás das peles dos animais que elege.
Começa vindo das profundezas, como Cérbero, o que zela pela porta do Inferno
e atinge a Quimera , explosiva e intensa. Um vulcão incontrolável.
Em outro momento, encarna a inocência e a mansidão: Unicórnio.
A Senhora das Feras tomou a forma da Deusa Bast, um corpo de mulher
e a cabeça de um Gato.
Sem pedir licença, grafitava símbolos nas paredes
do meu quarto e eu acompanhava sua mão.
A Senhora das Feras escrevia sem lápis ou caneta.
A criatura também esparramou todos os livros da minha estante;
que foram empilhados até o teto, onde ela sentou para me observar.
E eu, mergulhada no sono profundo da Deusa, pude ver todas as estrêlas
no céu denso de sampavelox,
derrubadas todas aqui no chão do quarto;
estrêlas que não tinham brilho,
apenas soltavam chispas prateadas.
E no auge da noite desregrada, aquela pantera negra
saltou em minha cama e se apoderou da minha carne e alma -
levou toda a prata e ouro do meu peito,
saciou-se com uma ferocidade louca.
Ela possuía um colar de esmeraldas,
e por vezes era uma mulher que sorria, lânguida.
Nem parecia aquele animal que se fartou em mim.
Os caminhos se bifurcam agora, neste instante -
não sei em que direção tomo
se corro, grito ou desperto;
fujo em carreira desabalada em direção ao dia -
ou permaneço no encanto da febre ( paixão da noite )
com estrêlas no chão, pirâmide de livros, Deusa Bast,
a pantera negra com esmeraldas.
Senhora das Feras.
* Imagem via A Touch of Vaudeville
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