Eu não queria vir à tona hoje. Diferente dos mineiros chilenos do Atacama.
A mulher do meu sonho, toda nua, me beijava. Não era um beijo, era o beijo.
Um beijo ritual, sorrisos e seu corpo dadivoso.
Preferia ficar lá, enterrada viva dentro da caverna aquecida pelo corpo-ritual da mulher,
ao lado de todo o ouro e cobre chileno, em silêncio.
Sem nenhum ruído. Nem as asas do Condor me levariam ,
para os ares e a superfície.
Ritual louco do sonho, colares , pulseiras verde, azul e prata.
Nem o sininho do bloguinho, Ooommmm, tocou.
Silêncio, respiração e beijo.

Teria vinho Carmen ( chileno Carmenere ) jorrando em fontes.
Milagre, milagre, diriam os moradores do pueblo San Jose de Las Flores.
Infelizmente, o celular e a vida exterior me despertaram do sonho.

Lá nas profundezas da mina de prata,
não preciso viajar de metrô, ver televisão, comprar no Museu do Azulejo
e assistir Passione. Tô passando mal*.
Um moleque com a cara do Neymar do glorioso Santos F.Clube,
ouvia pelo celular com auto-falante ligado a canção Tô passando mal*.
Não estávamos no Deserto do Atacama, mas na Linha Azul rumo a estação Vila Mariana.
Tô passando mal *, Fernando e Sorocaba. Eu mandaria fuzilar , numa ditadura.
Mas como vivemos  numa democracia plena, deixa quieto. Eles fazem o que querem.
Botei minhas borrachinhas japonesas no ouvido. Silêncio total.

Chile ! Chile ! Chile !
Até agora não entendi esse show com esses pobres mineiros soterrados.
Tô passando mal *
Quero dormir e voltar pro ritual da mulher nua.

Acho que é tendência não usar headphones no celular.


* Imagem photo by Martina Velenik via Freak Show Business

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| Por Prensada | quarta-feira, 13 de outubro de 2010 | 21:32.