Há três dias estou especialmente tocada. Nasceram cogumelos gigantescos por aqui e estou querendo rasgar fotografias, queimar a mobília e implodir a casa do litoral .
Sair pelo mundo com minha mochila.
Virar uma andarilha com um olho na bússola, para oeste sempre.
Mas são só ilusões. Ficarei aqui, encravada na pedra ou como uma planta na estaca.
Coisas internas brotaram como couve-flores gigantes e tive que digerir.
Chorei por dentro e por fora e ninguém percebeu.
Antigos fantasmas, medo, raiva e um tremor debaixo dos pés. Outro terrmoto na Vila Buarque ?
Chorei um dia inteiro suando e tendo picos daqueles calores da porra.
Toda vez que me pegava silenciosa, meus olhos se enchiam d'água.
E este vento de chuva que entra por aqui ? E por que essa dor toda ?
Queria saber se é químico ou líquido a dor no peito. Tango argentino ?
Este coração com sinais de alguns atropelos e enguiços , desliza no taco do salão iluminado com lâmpadas quentes, daquele amarelo embaçado.
Astor Piazzolla comporia uma milonga ferrada , dores que eu consigo localizar perfeitamente, meus vícios,manias e neuras.
Injetaria na minha corrente sanguínea o antídoto para me levar até lá:
ao centro do salão, para dançar.
O choro se vai então. Está tudo em carne viva.
Arde e dói.
* Imagem Tavo Ponce
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