Adorava o tec-tec-tec da redação, aquele silencio delicioso,
quebrado pelo barulho das máquinas de escrever e dos telefones na hora do fechamento.
O fechamento era a Hora do Angelus no jornal.
O editor- chefe com cara de filho da Pagú.
Era o próprio filho da Pagú.
E quando passávamos diante do seu aquário , eu ajoelhava em contrita adoração.
Era um terror que eu conseguia suportar porque fazia parte do meu show de jornalismo.
O tec-tec-tec era meu OM e o filho da Pagú era meu Gautama.
O momento supremo era quando o Senhor Buda desfilava pela Redação,
distribuindo flores, incensos e berros.
Não sei porque lembrei disso agora. O passado é tão acolhedor se pensado agora.
Mesmo com o filho da Pagú ao vivo e à cores.

Não tinha computador , celular, twitter e blogueiros.
Batiamos tambores quando acendia * red light.
Agora vivo nessa zona escorregadia, obrigada a beber chá de camomila,mel e pedaços de maçã fervendo prá poder dormir e ter um pesadelo com a Marília Gabriela.
Infusão, infusão ! Fui obrigada a tomar essa beberagem nojenta.
Mas o efeito é calmante.
Erradicar o verbo chatear.
Quem consegue brigar pelo celular, GTalk, msn , GMail, caçar IPs -
só pode viver em outra esfera. A virtualidade me dá náuseas sometimes.

Eu ainda tô na redação, no tec tec tec.
Estou como o Sebastião, amarrada e esperando as flechadas.

O desastre foi quando arranquei a fitinha vermelha do Bonfim,
gasta e puída e joguei no lixo.
Nem sei porque amarrei essa porra no pulso.
Foi um momento de insanidade total.
Queria que o mundo se tornasse azulzinho e
que os homens se amassem.

Ai Pagú, eu só quero sambar em paz,
beijar aquela nega bonita - que tem cara de boneca
e tomar a minha cerveja gelada no fim do dia.



* Imagem via Like a Hurricane, Zodiac - cena do filme - Robert Downey Jr.

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| Por Prensada | quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010 | 08:47.