Tudo começou no divã, quando a terapeuta disparou:
- O que você quer na vida afinal ?
E eu afundei no divã e me cobri com um cobertor tigrado, super fofo.
Se pudesse , nunca mais levantaria daquele conforto -
já imaginando o sufoco de retornar no metrô mega lotado das 18 horas.
Fiz cara de filósofa para responder e não disse nada, só enrolei.

Perguntas !
Olhei para a parede, buscando refúgio
e dei de cara diversos quadros de índios americanos em pose de guerra.
Fiquei super desconfortável debaixo da manta da pantera.
E respondi como uma divagação que não vem ao caso.
A terapeuta disse que sempre temos mais perguntas que respostas.
Que a mente não para na sua criação.

E quando os homens primitivos começaram a decorar suas cavernas,
e ficar mais sofisticados o caos se instalou.
O diabo tomou posse do cérebro com suas perguntas tolas e indagações existenciais.
Será que compro um celular novo ?
Onde fica o banheiro ?
Bebo mais um copo de cerveja ou já tá de bom tamanho ?
Fiz alguma diferença na vida de alguém ?
Com essa cara e essa idade posso ser feliz um dia ?
Onde fica esse caraleo de Turcomenistão ?
Posso te dar um beijo ?

Tenho tantas perguntas e nenhuma resposta.

Será que todas essas atrocidades que vejo por aí,
me fizeram ver o mundo com olhos mais benevolentes ?
E na escala pessoal , apesar de todos os dramas íntimos -
de onde vem essa força que brota feito o vulcão da Islândia ?
Como posso estar em pé, se a vida é tão cheia de enganos e desencantos ?
Parafraseando Shakespeare , dize-me o que perguntas , dir-te-ei quem és !

Não tão literário e teatral , o luxuoso compositor Cole Porter
naquela canção In the still of the night, indaga
Do you love me, as I love you ?
Acreditando ou não, é preciso muita coragem para essa pergunta -
e ouvir uma resposta. Acreditar na resposta é outra questão.
Somos humanos, vivemos de ilusão.



* Imagem via Audrey Hepburn Complex

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| Por Prensada | quarta-feira, 16 de junho de 2010 | 17:56.