Descansa no meu ombro
me abraça
e ficaremos horas,
em silêncio
na parada da viagem.
Trilha pela rota mais dura -
o jipe vive quebrando no acostamento da estrada.
Com dores e desolados seguimos,
porque a paisagem é bonita.
E afinal , quando olhamos no espelho ,
constatando aquela imagem
o que vemos ?
Um poço sem fundo, em espiral até o ponto final do sonho.
Aquele lugar que você já viu em algum filme: um final tristíssimo
ou aquele uau de delícia, tesão e arrebatamento.
Muito livre e solta e por vezes algemada à loucura coletiva.

Escultura de asa de anjo , versos escritos em caneta tinteiro, Borges, poemas de Sophia, Walt Whitman, Leminski e Carpinejar. E viagens de trem e no balão do refinado Phileas Fogg por 80 dias. Latitudes e longitudes , vento e sol escaldante. Um porre de vinho espumante daqueles baratinhos.
Judeus com seus versículos, Torá e estradas sem fim. Cervejas escuras e geladas.
De Portugal antiga não sei se sou judia ou árabe.O Cine Alhambra era meu cinema preferido lá na praia. Passava filmes europeus, chineses, brasileiros, japoneses e o underground americano.
Antes dele, tinha o sensacional Cinema 1 , em frente à praia, do legendário francês Maurice Legeard. Foi lá que eu me apaixonei. Santos era bacana antigamente, tinha gente mais febril e pilhada. Araquém Alcantâra, outro puta fotógrafo - que tinha piti na redação do jornal e subia em cima da mesa. Lane Valiengo também era o cara. Nei Latorraca, Rubens Ewald Filho,Plinio Marcos. Minha cabeça anda ruim e perdi um monte de gente boa. Desculpe.
Agora, a cidade é uma bosta que não afunda.

Já te falei que acho que vi uma Santa vindo à galope na minha direção ?

Tinta para pintar letras chinesas, contos de sacanagem, Mafalda e
Calvin, camarão pistola no alho e óleo ; passaporte novo para fugir prá não sei onde ;
Roupas de sultão de Brunei , um coral de freiras francesas e filme antigos.
Tarzan e Jane, Buster Keaton e King Kong. Forte Apache.
Batman Pow ! Aquele ingênuo Batman da TV. Aquela cestinha de kratacong do Mestiço (ahahaha....não sei escrever o nome do prato ) mas é super prá tomar com cerveja bacana.
Cheiro de lavanderia , brincos de camelô , a biografia de Goya e
Velazquez . A guitarra vermelha e uma fotografia de tirar o fôlego. Abacaxi cortado no carrinho do camelô. Gostar de tomar sol, prá pele arder.
Andaluzia, Málaga, Sevilha. Mouros correm no meu sangue.
No mergulho das pedras cobertas de limo espesso: sal e silêncio.
E olha só: os corais de águas profundas,
são demais de lindos !
Cuidado com eles. São tão frágeis que só de nadar à volta deles,
podemos desfazê-los.
O abraço, o afago e a carícia mais íntima vai além,
penetra na madrepérola , forma um grande coral prateado,
rosa e turqueza.


( Um Natal se foi, sem estrêla-guia,
fim de um tempo de calendário católico.
Rasgamos tudo e vamos em frente: vida.
Êfemera.
Nem deu tempo prá respirar.
Vamos lá, caímos no começo.

Viu só ?
assim abraçadas,
eu posso te contar um monte de histórias. )

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| Por Prensada | sábado, 27 de dezembro de 2008 | 20:29.